ENTREVISTA | Camilla Cidade fala sobre o lançamento da Cartilha Hip Hop Contra o Machismo

Essa semana foi lançada a Cartilha Hip Hop Contra o Machismo, ela vai ser disponibilizada gratuitamente de forma on-line e também será distribuída nas Rodas Culturais de Niterói. 
Conversamos com Camilla Cidade, produtora cultural responsável pela iniciativa, que é jornalista e DJ, em uma entrevista sobre o lançamento da Cartilha Hip Hop Contra o Machismo. 

A Cartilha faz parte de uma campanha surgida há quatro anos atrás, e aborda de maneira didática e acessível o tema da violência de gênero.

De acordo com a produtora, "a luta contra a violência à mulher deve ser reforçada cotidianamente nos lares, ambientes de trabalho, nas escolas e nas ruas... Por isso, atuar nas Rodas Culturais de Niterói, propondo a temática nas batalhas, e atuar de forma informativa, através da distribuição de cartilhas, é uma grande contribuição para a sociedade, principalmente colocando o assunto em voga nas rodas de rima contempladas." 

Camilla relata que já passou por diversas situações de violência verbal e física durante sua vida profissional. Ela associa esse comportamento ao fato de que homens não estão acostumados com o protagonismo de uma mulher atuando em espaços até então tipicamente masculinos. De acordo com a produtora, "ser mulher nos coloca numa posição que cotidianamente ao existir a trabalho já estamos sendo corpos políticos nos movendo por igualdade de gênero, em uma sociedade justa e equânime." 

A DJ que assina como Rootscidade prossegue afirmando que "mesmo diante dos avanços, são notórias as discriminações e violências contra nós, porém, o compromisso ético é enfrentar toda forma de opressão" finaliza.



1. Fale sobre o movimento Hip Hop contra o Machismo


O movimento surgiu em 2019 em um contexto de eleições pré-Bolsonaro, após uma violência verbal e física que ocorreu em uma roda cultural contra uma mulher (...) surgiu como resposta ao silenciamento e a banalização da violência contra a mulher. Ele surge de maneira online como forma educativa, se transforma em cartilha de forma independente principalmente acolhida distribuída por rodas em regiões periféricas no Rio. Em 2022 conseguimos aprovar o projeto no edital de Niterói Saúde e Cultura, e agora estamos nesse momento de lançamento de uma nova cartilha que busca orientar sobre as formas de prevenção e combate à violência urbana, social, doméstica e estrutural que (elas) vivenciam em toda sociedade.



2. O que te levou a fazer parte nesse movimento.


A necessidade de resposta a uma situação específica e ao notar a  banalização violência contra a mulher e desigualdade de gênero dentro das rodas culturais. Foram dores em comum que nos levou a união e a força produtiva para que o movimento se fundasse.



3. Fale sobre a parceria do Hip Hop contra o Machismo e as Rodas Culturais de Niterói.

 

Agradeço as Rodas Culturais de Niterói, que abraçaram o projeto, que são rodas que estruturalmente já tem em si a dinâmica de produções mistas entre os dois gêneros. Estamos juntos, através do edital Saúde e Cultura, atuando nesta questão de violência contra a mulher, que é uma questão de educação cultural e saúde pública.

4. Como vc acha que podemos ajudar a cultivar ambientes seguros para meninas e mulheres, livres do machismo?


Nosso objetivo principal com essa campanha é contribuir no fomento de reflexão; através das ações educativas que esclarecem sobre a sociedade misógina que vivemos, assim combatemos os machismos cotidianos através do conhecimento, sistematizamos e transmitimos conteúdos sobre equidade o combate a violência de gênero, de forma lúdica, e sonhamos, ousamos contribuir para que todas/os possam atuar na promoção de vidas livres da violência, tendo como foco o público das rodas culturais.


5. Qual a importância desse lançamento e também fala um pouco sobre a finalidade da Cartilha Hip Hop Contra o Machismo?

Em nossa sociedade a opressão da mulher se manifesta de diversas maneiras: violência doméstica, mercantilização do corpo da mulher, dupla ou tripla jornada de trabalho, falta de igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, entre outros. 

O Brasil é o 7º país que mais mata mulheres entre os 84 que compõem o ranking da Organização Mundial da Saúde. São 4 assassinatos para cada grupo de 100 mil mulheres. Índices muito superiores à média internacional e, inclusive, da América Latina. 

Entre 2020 e 2021, uma estimativa do Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), tabulados pelo Instituto Santos Dumont (ISD), mostra que, no Brasil, o número de delitos contra as mulheres quase triplicou. Ou seja, passou de 271.392 registros para 823.127, um aumento de 203.30%. 

Apesar da Lei Maria da Penha ter sido promulgada há mais de 6 anos, a violência contra as mulheres ao invés de diminuir, vem aumentando. 

A finalidade da Cartilha Hip Hop Contra o Machismo é fazer trabalho de base com as pessoas próximas, alertar  e conscientizar. Apontar e reprimir falas/atitudes machistas  sejam direcionadas a nós, ou não! Não endossando ou fazendo piada com comportamentos machistas e misóginos. 

Para ter acesso ao cronograma de apresentações e ao conteúdo da cartilha, acompanhe Instagram @labhiroots

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